O cuidado com os dentes de bebês e crianças é um assunto que merece muita atenção. Com o intuito de aprimorar seu conhecimento sobre o assunto, a Farmácia de Manipulação Cavalieri consultou as especialistas Drª Aline Rezende Zaiter, Drª Ingra Og Gelbis Mello e Drª Maria Inês da Cruz Campos, da Clínica Clinin, para trazer maiores informações sobre tema.
1- Quando nascem os dentes dos bebês?
Os dentes decíduos iniciam sua erupção por volta dos 6 meses de idade. Primeiro aparecem os dois incisivos da arcada inferior para depois aparecerem os quatro incisivos da arcada superior. Crianças do sexo feminino apresentam uma erupção mais precoce que as do sexo masculino.
2- Qual a importância do aleitamento materno para a saúde bucal?
A amamentação natural durante o primeiro ano de vida é fundamental para a prevenção das má oclusões dentárias. Além da importância afetiva e nutricional, o exercício muscular durante a sucção no seio materno favorece a respiração nasal e previne grande parte dos problemas de posicionamento incorreto dos dentes e das estruturas faciais.
3- Bebês prematuros tem dentes mais fracos e estes demoram mais a nascer?
A primeira dentição dos bebês prematuros surge por volta dos 9 meses de idade, enquanto as crianças nascidas de gestações completas os dentes aparecem aos 6 meses de idade. Essa diferença, no entanto, não significa atraso no desenvolvimento devido ao fato de que a criança teve menos tempo de desenvolvimento no útero e esta diferença é compensada após o nascimento. Estudos confirmam que as crianças prematuras superam a diferença entre a idade correta e a idade cronológica por volta dos 3 anos de idade.
4- Existe algum cuidado que a mãe possa ter durante a gravidez para que o bebê tenha dentes mais saudáveis?
É interessante que a mulher que planeja ser mãe fizesse um tratamento dentário completo antes de engravidar. Isso porque muitas terapias dentárias exigem o consumo de medicamentos tais como anti-inflamatório e antibiótico. Sabe-se que qualquer medicamento está totalmente contraindicado nos primeiros três meses de gravidez e que, sendo possível, deve ser evitado durante toda a gravidez. Um tratamento completo, antes da futura mamãe engravidar, faria com que os retornos da mulher ao dentista, durante a gestação, ocorressem somente para fazer a profilaxia (o que não exige o consumo de medicamentos). Isso sem contar que infecções dentárias e gengivais podem até mesmo induzir o parto prematuro, como está atualmente bem evidenciado e documentado. Daí a importância do pré-natal odontológico. E é durante o pré-natal que a gestante receberá medidas preventivas para seus dentes e gengivas. Caso haja muita necessidade, será realizado o tratamento odontológico a fim de restabelecer sua saúde oral. Além disso, a gestante receberá orientações de promoção da saúde oral para seu bebê.
5- É verdade que quando nascem os dentes a criança tem febre e diarreia?
Neste período, o bebê pode babar excessivamente, ficar irritado ou inquieto, levar as mãos à boca e mastigar qualquer objeto que esteja ao seu alcance. Para melhorar este desconforto, podemos oferecer alimentos mais duros e mordedores de borracha para massagear a gengiva. O bebê pode apresentar as fezes mais fluídas e ficar febril. Somente diarreia ou temperatura acima de 38º C são anormais.
6- Como perceber que os primeiros dentes estão nascendo?
O período do nascimento dos dentes de leite, que acontece normalmente entre os seis e 15 meses de vida das crianças, é uma fase complicada tanto para os bebês, quanto para os pais, já que os pequenos ficam irritadiços. Os sintomas associados ao surgimento da primeira dentição são assunto polêmico, já que cada criança apresenta um comportamento diferente. As principais reações que a chegada dos dentes pode causar são: alterações gastrointestinais que podem ter outras causas, como o ato de levar dedos e objetos contaminados com frequência à boca, em função do desconforto gengival; mudanças alimentares; perda de apetite, que pode ser devido à irritação durante o aleitamento; aumento da secreção nasal; episódios de vômitos, tosse, infecções auditivas, dificuldade de movimentação, distúrbios para dormir, aumento no número de evacuações, vermelhidão em outras regiões que não a face. Pode ocorrer inflamação na gengiva durante o nascimento dos dentes de leite quando estes encontram-se próximos do momento de “rasgarem” a gengiva, áreas de inchaço podem ser observadas. Este é o sintoma bucal mais frequente durante o aparecimento da dentição. Sua duração varia entre dois e 10 dias, e depende de muitos fatores, como o padrão de higiene bucal e a saúde geral da criança. Pesquisas realizadas com pais de bebês de seis a 24 meses mostraram que a irritabilidade foi o sintoma mais associado à erupção dental, seguido por febre, diarreia, infecção auditiva e vômito.
7- O que fazer quando o bebê fica irritado com o nascimento dos primeiros dentes?
A erupção dos dentes de leite não é uma doença e seus sintomas podem ser tratados em casa, uma vez que com o tratamento correto, o alívio é imediato. Com o intuito de minimizar e eliminar possíveis desconfortos, os pais podem utilizar métodos simples em casos de dores suaves, como:
Existem no mercado escovas ou dedeiras produzidas à base de silicone, indicadas a partir do segundo mês de vida do bebê. Seu uso evita a formação da placa bacteriana gengival e ajudar a aliviar o desconforto no nascimento dos primeiros dentes. Feitas de silicone totalmente atóxico, podem ser lavadas e esterilizadas após cada uso. Sua textura permite uma higiene delicada, possibilitando aos pais fazer a higiene da boca da criança com suavidade.Nos casos em que a dor não é aliviada mediante a utilização dos métodos acima citados, os odontopediatras podem receitar medicamentos analgésicos e antitérmicos, além de pomadas com componentes analgésicos e anestésicos para uso tópico. Ainda, o médico deve ser consultado sempre que os pais observarem exacerbação de qualquer dos sinais e sintomas do nascimento dos dentes de leite.
8- Como fazer a higiene desses primeiros dentes?
Engana-se a mamãe que acha que deve se preocupar com a limpeza da boca e dos dentes do bebê só depois que os dentinhos surgem na boca. Pior ainda são as mães que acham que dentes de leite não precisam de cuidados, pois têm vida curta. Muitos não sabem, mas bebês precisam escovar os dentes!
O mais surpreendente: a higiene oral deve ser feita mesmo antes de os dentes nascerem! Parece desnecessário, não é verdade? Afinal, se nem dentes têm, pra que limpar?
Assim como com os adultos, a boca das crianças, inclusive bebês, deve ser higienizada após as refeições. Resquícios dos alimentos – inclusive do leite materno – ficam acumulados na boca, tanto na língua quanto gengiva e bochechas. Isso leva a um consequente maior acúmulo de microrganismos, que se alimentam desses restos. Para os bebês mais novos, como os recém-nascidos, eles aumentam o risco de infecções, como o sapinho (causada por um fungo). Com o nascimento dos dentes, a cárie passa a ser uma ameaça. Sim, bebês podem ter cáries. E a maior incidência é no grupo de bebês que tomam mamadeira com açúcar antes de dormir, sem fazer higiene depois. Dentes-de-leite comprometidos podem dar origem a dentes permanentes mal formados.A higiene para bebês pode ser feita satisfatoriamente com gaze(ou a ponta de uma fralda) molhada em água filtrada e em temperatura ambiente. Passe no interior da boca suavemente, limpando a língua, as bochechas e gengivas.
9- Quando a criança pode começar a escovar os dentes sozinha?
Crianças que estão se tornando mais independentes podem, em um primeiro momento, escovar os dentes, sozinhas, mas, em seguida, um dos pais devem escovar novamente seus dentes, para assegurar que a higiene seja completa.
São indicadas três a quatro escovações diárias. A criança de 5 anos pode começar fazendo uma das escovações sozinha e, à medida, que for obtendo destreza manual vai aumentando esta independência. É importante que, até os 12 anos, os pais ainda realizem uma escovação por semana em seus filhos.
10- Qual o creme dental ideal para a criança?
A pasta de dente, ou creme dental, deve ser utilizada somente a partir do momento em que a criança compreenda e consiga realizar o bochecho e não engolir a pasta. O uso de creme dental só deve ser usado sob orientação profissional, que indicará quando e qual creme usar, já que para os pequenos não pode conter flúor devido à imaturidade da deglutição – a criança ainda não está suficientemente preparada e pode engolir todo o flúor que, em excesso, pode fazer mal à saúde dos dentes permanentes.
Mesmo as outras pastas de dente infantis sem flúor podem fazer mal à saúde quando ingeridas em excesso. Além disso, crianças dessa idade também devem usar o fio dental.
Desde 2009, vem sendo divulgado que crianças, mesmo aquelas que ainda não aprenderam a cuspir, utilizem creme dental fluoretado pelo menos uma vez ao dia. As outras escovações deveriam ser feitas com creme sem flúor. Esta afirmação é baseada no princípio de que é preferível ter dentes com excesso de flúor do que dentes com cáries.
11- Quais fatores podem provocar a cárie?
Todo mundo que tem dentes possui riscos de desenvolver cáries, eventualmente. Existem várias teorias sobre as causas precisas das cáries, mas, em geral, os principais fatores são os genéticos, nutricionais e hormonais. Algumas pessoas apresentam uma proteção genética contra as cáries. As cáries dentárias são causadas por ácidos produzidos pela fermentação de restos da dieta sendo esta fermentação feita por determinadas bactérias que se encontram normalmente na boca.
Enfim, a cárie dental resulta do desequilíbrio entre desmineralização e remineralização dos dentes e dependem de:
12- Então, como se produzem as cáries dentárias?
As cáries dentárias resultam da degradação de açúcares e sua transformação em ácidos que destroem a porção mineralizada dos dentes. O flúor e o cálcio inibem esse processo. Quando não se faz uma escovação correta dos dentes, acumulam-se neles restos de alimentos e as bactérias que vivem na boca aderem-se a eles, formando a placa bacteriana que se deposita sobre os dentes, onde os açúcares dos restos de alimentos são transformados em ácidos, que corroem o esmalte dos dentes, formando uma cavidade, que é a cárie propriamente dita.
Como a cárie é uma doença infecciosa, isto é, passa de pessoa para pessoa, devemos evitar assoprar a comida da criança, dividir o mesmo talher ou beijar a sua boca (selinhos), pois se estiver com cárie, pode contagiar a criança.
13- Qual a idade para começar a levar a criança ao dentista?
A mãe deve procurar um profissional antes de engravidar ou, se isso não se deu assim, logo que engravidar. Já o bebê, nos primeiros meses, antes mesmo de começar a nascerem os primeiros dentinhos. A higiene da boquinha do bebê dever ser executada desde os primeiros dias de vida e o profissional é quem vai ensinar a mãe como proceder. Em resumo, o ideal é que ocorra o mais cedo possível. O tratamento odontológico preventivo inicia desde a fase de bebê e prossegue até o final da adolescência com consultas marcadas de acordo com a necessidade individual. A saúde oral é parte integrante da saúde do indivíduo, por isso requer cuidados precoces. Quanto mais cedo iniciarmos a consultas de promoção de saúde, mais efetivos serão os resultados e melhor será a adaptação da criança ao consultório odontológico.
14- Uma criança também pode ter problema gengival?
A inflamação das gengivas (chamada gengivite) ocorre com muita frequência em crianças, só que na maioria das vezes, os pais só percebem quando o bebê se recusa a comer, demonstrando nítido desconforto bucal. A gengivite começa com uma simples inflamação e se negligenciada, pode destruir o tecido ósseo que dá suporte aos dentes. Embora a infecção esteja presente, a dor não aparece inicialmente. No primeiro estágio ocorre inflamação (vermelhidão) e sangramento da gengiva. O desconforto começa a se instalar. A forma mais avançada da gengivite é a periodontite, que aparentemente é semelhante à gengivite, mas com perda óssea. Esta só pode ser percebida em radiografias.
A higiene bucal é essencial para evitarmos essa doença, que pode começar com as gengivas e envolver todos os tecidos que dão suporte aos dentes. As técnicas de escovação e uso de acessórios preventivos devem ser assimilados por toda a família. A habilidade nas técnicas de prevenção vai se desenvolvendo aos poucos, tanto pelos pais como pela criança.
15- Quando a criança deve fazer a aplicação de flúor?
Dois fatores principais devem ser considerados para essa indicação: a atividade de cárie, ou risco de desenvolvê-la e a idade, devido ao perigo de ingestão. Para indivíduos sem atividade de cárie e com baixo risco, por exemplo, aqueles que higienizam adequadamente os dentes, tem dieta pouco cariogênica e não tem histórico passado de cárie dentária apenas o dentifrício fluoretado é suficiente. Alguns profissionais indicam o uso tópico profissional para permitir maior controle. Se a criança apresenta atividade de cárie, mas ainda com poucas lesões ou encontra-se numa fase onde o risco de desenvolver a doença é alto, por exemplo, ingresso em uma escolinha ou creche (onde nem sempre é possível controlar a dieta) ou época de erupção de molares permanentes (aos 6 anos de idade), pode-se, indicar além do dentifrício, alguma forma de uso tópico profissional. Independente da forma escolhida (gel, verniz, espuma) deve ser feita uma visita ao profissional, semestralmente, para que seja feita uma revisão odontológica. A aplicação tópica de flúor pode ser realizada a partir dos três anos de vida quando toda a dentição decídua já esta completa na boca da criança.
16- Existe uma relação direta entre a dieta e a doença cárie?
A cárie é causada pela placa – um fino filme de bactérias que recobre os dentes. Depois que você come ou bebe, a placa bacteriana digere os açúcares e produz ácidos que enfraquecem o esmalte dentário. Quanto mais você consome alimentos e bebidas que contêm açúcar, maior é o risco de desenvolver placa e acabar formando cárie. A melhor maneira de proteger seus dentes contra a placa é ficar de olho na quantidade de açúcar da sua dieta.
Praticamente todos os alimentos, incluindo leite e vegetais, tem algum tipo de açúcar, porém, para controlar a quantidade de açúcar que você consome, leia os rótulos e escolha os alimentos e bebidas que contêm pouca adição de açúcar. A adição de açúcar é frequente em refrigerantes, balas, biscoitos e doces. Para contrabalançar, é importante escovar os dentes pelo menos três vezes ao dia e limpar entre os dentes com fio dental. Quando a placa se forma, ela pode fazer as gengivas sangrarem ou incharem – o que, se não tratado, pode levar à doença gengival e perda dental.